A humanidade acabará por excesso de humanidade
Marcello Veneziani, 18 de fevereiro de 2022
Oito mil milhões, já somos 8.000.000.000 de pessoas na Terra. Quando eu nasci, e asseguro-vos que não foi há mil anos, a população da terra era um terço da actual. Agora estamos a galopar para os oito mil milhões e há uma verdadeira preocupação. Pensamos no Omicron e nas vacinas, na Ucrânia e no Quirinal, e, contudo, há um enorme problema que diz respeito a todo o mundo, mas ainda maior é a indiferença geral, a desatenção global.
Tendo em conta o crescimento exponencial, o crescimento anormal da humanidade é a maior ameaça para a humanidade, pior do que a contaminação, as dívidas, os conflitos, todos os perigos e as pandemias juntos. E dói associar o risco de colapso do planeta com a taxa de natalidade e as novas vidas que florescem no mundo. Com o paradoxo adicional de que o planeta incha enquanto Itália, e com ela a Europa, cai num estado de subnatalidade e necessitaria de mais crianças para ter uma perspectiva de futuro. São necessárias duas políticas demográficas opostas, uma para fomentar a desnatalidade no mundo e outra para aumentar a natalidade na Itália e na Europa.
A Terra, lançada num louco crescimento, não pode suportar o
peso de tantos habitantes. Todos esperamos que as condições de vida melhorem
para a humanidade e para os mais pobres que continuam a dar à luz; mas o esgotamento
dos recursos e a contaminação global devida à superpopulação são agora uma ameaça
letal para todos. Se continuasse a crescer o número de consumidores e o nível
de vida se estendesse aos milhares de milhões de pobres de África e Ásia, seria
uma catástrofe; é inútil encontrar palavras mais suaves e hipócritas para o
dizer. E é demagógico transladar o problema da superpopulação para a redistribuição
da riqueza, como faz Bergoglio, crendo que a solução é carregar a minoria rica
com o peso crescente das necessidades mundiais da maioria afundada na pobreza.
Por todo o lado, observo falta de reflexão e olhares distraídos
sobre este alarmante facto numérico. Quando há uns dias se anunciou nos telejornais
que tínhamos superado o limiar dos oito mil milhões, a notícia foi relegada para
segundo plano, entre um beicinho e uma mudança de imagem, para passar un
momento depois a relatar notícias mínimas ou fúteis, como se a coisa não merecesse
mais reflexão do que uma apressada referência estatística, quase uma estranha
curiosidade do tipo "Você sabia?" E como se, no final, não nos
preocupasse. Em vez disso, é a notícia por excelência, que põe em perigo qualquer
outra projecção de futuro e põe em jogo a existência no planeta.
Nem sequer serve a cruel hipótese consequente, ventilada por
alguns, de acelerar a morte da população mais velha, talvez, inclusive,
utilizando pandemias tão desumanas como ferozes: porque por cada idoso há sete
que não o são, e por um idoso que morre chegam três para o seu lugar. As populações
idosas são uma minoria no planeta em comparação com as populações jovens ou
infantis.
O único remédio, goste-se ou não, é o controlo da natalidade.
Mas não podemos esperar que os estados e as autoridades locais o façam por
iniciativa própria, e todos ao mesmo tempo, com a mesma eficácia, em todo o
planeta. Horroriza-nos a ideia da planificação da natalidade e, no entanto,
necessitaríamos de um organismo internacional, uma superpotência, um império
universal com a força, a capacidade e a visão de futuro necessárias para
regular os nascimentos, para condicionar a ajuda à contenção drástica dos
berços.
Inclusive as hipóteses mais futuristas, como a colonização do
espaço, indo povoar outros planetas e galáxias, são tecnicamente impraticáveis e,
em qualquer caso, é logisticamente inviável efectuar transferências massivas dessa
envergadura; é inimaginável deportar milhares de milhões de habitantes da
Terra, transportá-los para fora do mundo, em imensas naves espaciais ou numa ponte
permanente ou numa fita transportadora mágica... É impossível, além de que é
inadmissível a violência, a expatriação forçada do planeta, o êxodo forçado que
isso implicaria.
Não nos resta mais remédio do que um estrito controlo da
natalidade, a sua drástica limitação. Se isso não se aceitar, só resta o
fatalismo, enfrentar a explosão demográfica do planeta, o consumo letal de ar, água,
alimentos, energia, e, depois, que aconteça o que Deus quiser.
Ou, de forma mais egoísta, pensar que, entretanto, estamos a
fazer bem, considerando todas as coisas, e que o big bang não se produzirá de um
dia para o outro. A posteridade se encarregará da posteridade.
Não vi uma única partícula de Greta a dar o alarme no mundo e
a instar os poderosos da terra a remediar a situação, ou, pelo menos, a aplicar
políticas planetárias eficazes. Inclusive o papa mantém silêncio a esse respeito.
Não há marchas, nem mobilizações, nem protocolos globais eficazes, como se se
tratasse de um capricho estatístico sem importância. O que vamos fazer? Deixar-nos
asfixiar pela overdose de humanidade que há no planeta, tapando-o com uma venda
humanitária para que o final seja mais suave? Não estou a semear o pânico nem a
ser apocalíptico: esses números não são discutíveis, e o impacto desses cifras
crescentes no planeta será inevitavelmente devastador e relativamente rápido,
inclusive se adoptássemos comportamentos sensatos na bebida, na alimentação, no
desporto e na reciclagem, vivendo de forma eco-sustentável: a terra não pode suportar
semelhante superpopulação, há que o remediar de raiz. Para salvar a humanidade,
devemos limitar o número. São só palavras ao vento que confirmam uma feia
verdade: as inteligências individuais, acumuladas em grande número, formam uma
imensa estupidez.
© La Verità
Publicado em
El Manifiesto.