16 março 2022

A humanidade acabará por excesso de humanidade

Marcello Veneziani, 18 de fevereiro de 2022

Oito mil milhões, já somos 8.000.000.000 de pessoas na Terra. Quando eu nasci, e asseguro-vos que não foi há mil anos, a população da terra era um terço da actual. Agora estamos a galopar para os oito mil milhões e há uma verdadeira preocupação. Pensamos no Omicron e nas vacinas, na Ucrânia e no Quirinal, e, contudo, há um enorme problema que diz respeito a todo o mundo, mas ainda maior é a indiferença geral, a desatenção global.

Tendo em conta o crescimento exponencial, o crescimento anormal da humanidade é a maior ameaça para a humanidade, pior do que a contaminação, as dívidas, os conflitos, todos os perigos e as pandemias juntos. E dói associar o risco de colapso do planeta com a taxa de natalidade e as novas vidas que florescem no mundo. Com o paradoxo adicional de que o planeta incha enquanto Itália, e com ela a Europa, cai num estado de subnatalidade e necessitaria de mais crianças para ter uma perspectiva de futuro. São necessárias duas políticas demográficas opostas, uma para fomentar a desnatalidade no mundo e outra para aumentar a natalidade na Itália e na Europa.

A Terra, lançada num louco crescimento, não pode suportar o peso de tantos habitantes. Todos esperamos que as condições de vida melhorem para a humanidade e para os mais pobres que continuam a dar à luz; mas o esgotamento dos recursos e a contaminação global devida à superpopulação são agora uma ameaça letal para todos. Se continuasse a crescer o número de consumidores e o nível de vida se estendesse aos milhares de milhões de pobres de África e Ásia, seria uma catástrofe; é inútil encontrar palavras mais suaves e hipócritas para o dizer. E é demagógico transladar o problema da superpopulação para a redistribuição da riqueza, como faz Bergoglio, crendo que a solução é carregar a minoria rica com o peso crescente das necessidades mundiais da maioria afundada na pobreza.

Por todo o lado, observo falta de reflexão e olhares distraídos sobre este alarmante facto numérico. Quando há uns dias se anunciou nos telejornais que tínhamos superado o limiar dos oito mil milhões, a notícia foi relegada para segundo plano, entre um beicinho e uma mudança de imagem, para passar un momento depois a relatar notícias mínimas ou fúteis, como se a coisa não merecesse mais reflexão do que uma apressada referência estatística, quase uma estranha curiosidade do tipo "Você sabia?" E como se, no final, não nos preocupasse. Em vez disso, é a notícia por excelência, que põe em perigo qualquer outra projecção de futuro e põe em jogo a existência no planeta.

Nem sequer serve a cruel hipótese consequente, ventilada por alguns, de acelerar a morte da população mais velha, talvez, inclusive, utilizando pandemias tão desumanas como ferozes: porque por cada idoso há sete que não o são, e por um idoso que morre chegam três para o seu lugar. As populações idosas são uma minoria no planeta em comparação com as populações jovens ou infantis.

O único remédio, goste-se ou não, é o controlo da natalidade. Mas não podemos esperar que os estados e as autoridades locais o façam por iniciativa própria, e todos ao mesmo tempo, com a mesma eficácia, em todo o planeta. Horroriza-nos a ideia da planificação da natalidade e, no entanto, necessitaríamos de um organismo internacional, uma superpotência, um império universal com a força, a capacidade e a visão de futuro necessárias para regular os nascimentos, para condicionar a ajuda à contenção drástica dos berços.

Inclusive as hipóteses mais futuristas, como a colonização do espaço, indo povoar outros planetas e galáxias, são tecnicamente impraticáveis e, em qualquer caso, é logisticamente inviável efectuar transferências massivas dessa envergadura; é inimaginável deportar milhares de milhões de habitantes da Terra, transportá-los para fora do mundo, em imensas naves espaciais ou numa ponte permanente ou numa fita transportadora mágica... É impossível, além de que é inadmissível a violência, a expatriação forçada do planeta, o êxodo forçado que isso implicaria.

Não nos resta mais remédio do que um estrito controlo da natalidade, a sua drástica limitação. Se isso não se aceitar, só resta o fatalismo, enfrentar a explosão demográfica do planeta, o consumo letal de ar, água, alimentos, energia, e, depois, que aconteça o que Deus quiser.

Ou, de forma mais egoísta, pensar que, entretanto, estamos a fazer bem, considerando todas as coisas, e que o big bang não se produzirá de um dia para o outro. A posteridade se encarregará da posteridade.

Não vi uma única partícula de Greta a dar o alarme no mundo e a instar os poderosos da terra a remediar a situação, ou, pelo menos, a aplicar políticas planetárias eficazes. Inclusive o papa mantém silêncio a esse respeito. Não há marchas, nem mobilizações, nem protocolos globais eficazes, como se se tratasse de um capricho estatístico sem importância. O que vamos fazer? Deixar-nos asfixiar pela overdose de humanidade que há no planeta, tapando-o com uma venda humanitária para que o final seja mais suave? Não estou a semear o pânico nem a ser apocalíptico: esses números não são discutíveis, e o impacto desses cifras crescentes no planeta será inevitavelmente devastador e relativamente rápido, inclusive se adoptássemos comportamentos sensatos na bebida, na alimentação, no desporto e na reciclagem, vivendo de forma eco-sustentável: a terra não pode suportar semelhante superpopulação, há que o remediar de raiz. Para salvar a humanidade, devemos limitar o número. São só palavras ao vento que confirmam uma feia verdade: as inteligências individuais, acumuladas em grande número, formam uma imensa estupidez.

© La Verità

Publicado em El Manifiesto.